O videoclipe I Want to Go Home procura ampliar o tema de desencaixe presente na letra da canção. Para isso, a distância da figura amada e o conseqüente sentimento de inadequação ao entorno são retirados do contexto romântico e da cidade de Paris. Em sua singularidade de versos em inglês, o refrão oferece o mote principal para o clipe: Alex Beaupain repete o desejo de retornar ao lar, constata não ter mais para onde ir e, voilá, é mostrado vivendo em um asilo e participando plenamente da rotina de senhores e senhoras de terceira idade.
Investe-se, desse modo, em uma situação que, além de escapar aos lugares comuns dos clipes de amor, se passa em um ambiente passível de ser encontrado em diferentes países. A expressão emocional do cantor tem uma continuidade e está afinada com o desamparo dos velhos, que reflete o medo de terminar sozinho ou apenas afastado do que se foi ou se teve no passado. Por isso, é mesmo emocionante que eles assumam ocasionalmente a dublagem de trechos da canção, em que dizem “quero voltar pra casa” ou “certamente, você não me espera mais”.
Não é comum que a velhice seja tematizada nos videoclipes e, na minha opinião, I Want to Go Home faz isso de uma maneira não condescendente. A colocação de Beaupain entre idosos não pretende demarcar o quanto o artista é diferente deles; pelo contrário, sublinha que, eventualmente, todos podemos ter finais não ideais.
Adicionalmente, parece-me que o clipe faz referência ao recorrente sentimento de alheamento de mulheres e homens com relação às suas próprias conquistas. Em momento emblemático, Alex Beaupain canta “já passei por aqui (...) mesmo minha memória me deixa”, enquanto reconhece na TV um trecho do musical Les Chansons D’Amour (Christophe Honoré, 2007), para o qual ele compôs as canções. De certo modo, isso é tão melancólico quanto a velhinha que não consegue alcançar alguém pelo telefone ou o senhor que, sozinho em seu quarto, escreve até tudo ficar escuro demais.
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